quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Antropologia Cristã

“Quem é o homem?” perguntou o salmista séculos atrás ( Salmos 8:4). Qual é a origem do homem? È obra do acaso? É fruto da evolução? Será que o surgimento do homem não tem explicação? Será o homem a obra – prima de Deus?
Estas e outras perguntas nos confronta hoje com nova premência e com menos perspectiva de uma resposta definida do que em qualquer outra época da história.
As antropologias cientificas não dão ajuda necessária, apesar da diversidade, elas não tem uma resposta às questões finais. Além disso, estão cheias de tensões não resolvidas em sua compreensão da humanidade. Devemos compreender a nós mesmo, em termos de poderes racionais e espirituais como pensa a filosofia clássica e o pensamento oriental, ou principalmente a realidade física, e pelo marxismo? Devemos ter um conceito pessimista, como no existencialismo, ou otimista, como no humanismo no marxismo e no hedonismo popular?
“Quem sou eu”? A questão de nossa identidade esta subjacente a tudo o que fazemos e tornamo – nos. A direção que damos à nossa vida importa.
Antropologia cristã afirma que existe outra dimensão, e que sua negligência e a raiz de toda nossa conclusão. Calvino diz o seguinte: “O homem jamais obtem um conhecimento claro de si mesmo a não ser que tenha primeiro contemplado a face de Deus e depois desça para analizar a si mesmo.” O homem só pode ser verdadeiramente compreendido à luz de Deus e de seu propósito para a humanidade, isto é, à luz da revelação divina.
A Bíblia nos ensina que Deus criou o mundo por um ato livre de seu poder, de sua sabedoria e do seu amor e que criando-o, era o homem que ele tinha em vista. O homem que ocupava o pensamento Dele, ele é idéia divina por excelência que preside toda a criação; é a realização essencial de Deus.
A criação do homem, como é ensinado pelos alguns antropólogos, destaca-se como um monumento sublime de intervenção milagrosa na natureza, refutando os ataques da incredulidade, e refletindo a sabedoria e glórias divinas.
Para Santo Agostinho a antropologia cristã deve ser vista não somente pela filosofia dos primeiros pais, mas pela boa exegese e hermenêutica da revelação.
Parra ele, a história da raça humana que se apresenta na Bíblia é principalmente a história do homem num estado de pecado e rebelião contra Deus e do plano redentor de Deus para levar o homem de volta pra Ele. A questão antropologica de Agostinho passa pelo problema do Livre Arbítrio.
Segundo Agostinho, os conceitos de liberdade (libertas) e livre arbítrio (De libero arbitrio) possuem significados diferentes e estão diretamente ligados ao conceito do pecado original. O livre arbítrio indica a possibilidade de escolha entre o bem e o mal. Já a liberdade é a plena submissão da vontade a Deus. O homem perdeu a liberdade com o pecado original, dado que sua vontade fragilizada não mais poderia submeter-se à vontade de Deus. Mas não perdeu o livre arbítrio, no sentido de que permaneceu sua livre agência para o mal. Assim sendo, a única possibilidade de reaver a liberdade, perdida no pecado original, estava dada na graça sobrenatural, em sua ação regeneradora sobre a vontade. A rigor, a idéia de liberdade é apresentada em três estágios em Agostinho. Em primeiro lugar, antes do pecado original há a vontade como possibilidade de livre arbítrio, que pode ou não pecar. Após a queda, a vontade perde a liberdade, sem perder o livre arbítrio, e está fragilizada e não pode fazer o bem. A liberdade para fazer o bem só existe com o auxílio da graça. Na eternidade, a liberdade é entendida como plena submissão da vontade a Deus, não havendo mais possibilidade de pecar.
A antropologia agostiniana é historicamente relevante porque implicou um estudo aprofundado sobre a natureza humana na antropologia teológica e despertou estudos filosóficos e teológicos na questão da moral ou do eu-moral, salientando seu caráter de revolução em relação à antropologia intelectualista grega. Especial atenção será dada à relação feita à filosofia e a revelação, especialmente nos escritos paulinos. Conclui-se que a antropologia de Agostinho de Hipôna é sobrenatural antes que física, colocando a soberania absoluta na graça.
Para Tomas de Aquino, a concepção do ser humano,partindo de um conceito aristotélico, Aquino desenvolveu uma concepção hilemórfica do ser humano, definindo o ser humano como uma unidade formada por dois elementos distintos: a matéria primeira (potencialidade) e a forma substancial (o princípio realizador). Esses dois princípios se unem na realidade do corpo e da alma no ser humano. Ninguém pode existir na ausência desses dois elementos.
A concepção hilemórfica é coerente com a crença segundo a qual Jesus Cristo, como salvador de toda a humanidade, é ao mesmo tempo plenamente humano e plenamente divino. Seu poder salvador está diretamente relacionado com a unidade, no homem ou na mulher, do corpo e da alma. Para Aquino, o conceito hilemórfico do homem implica a hominização posterior, que ele professava firmemente. Uma vez que corpo e alma se unem para formar um ser humano, não pode existir alma humana em corpo que ainda não é plenamente humano.
O feto em desenvolvimento não tem a forma substancial da pessoa humana. São Tomás aceitou a ideia aristotélica de que primeiro o feto é dotado de uma alma vegetativa, depois, de uma alma animal, em seguida, quando o corpo já se desenvolveu, de uma alma racional. Cada uma dessas “almas” é integrada à alma que a sucede até que ocorra, enfim, a união definitiva alma-corpo.