O tráfico de drogas proibirá a venda de
crack nas favelas do Jacarezinho, Mandela e de Manguinhos. A informação
foi publicada na coluna de Ancelmo Gois desta quarta-feira (20), com a
foto ao lado. A medida, decidida pela maior facção do tráfico no Rio de
Janeiro, ocorre dois meses depois de lançado na capital fluminense o
programa “Crack, é possÃvel vencer”, do governo federal.
A ordem de proibir a venda de crack
partiu de chefes do tráfico de drogas, que estão presos. A informação
vinha circulando pelas comunidades, mas ontem pela primeira vez apareceu
o cartaz anunciando a proibição, “em breve”, ao lado da cracolândia da
favela Mandela, na Rua Leopoldo Bulhões, na chamada Faixa de Gaza. Os
traficantes ainda têm ali cerca de dez quilos de crack. Cada pedra custa
R$ 10,00. Há informações de que os criminosos temem que a Força
Nacional de Segurança ocupe aquelas favelas, como ocorreu na comunidade
Santo Amaro, no Catete, onde está há um mês e já apreendeu 1.513 pedras.
“Gostaria que essa decisão se espalhasse
por todas as favelas do Rio, porque o crack é uma droga devastadora e
tem produzido só dor e sofrimento”, disse o lÃder do Rio de Paz, Antônio
Carlos Costa, que desde 2009 faz trabalhos sociais na Mandela.
O combate ao crack virou uma questão de
honra para o governo Dilma, que anunciou investimentos da ordem de R$ 4
bilhões no programa lançado em dezembro do ano passado. A grande
dificuldade, segundo o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, é a falta
de pessoal capacitado para lidar com os dependentes de crack em todo o
paÃs. No Rio, o programa foi implantado em abril, com a participação do
governo do estado e da prefeitura. Só no Estado fluminense, a previsão
de verbas da União é de R$ 240 milhões.
De alguma forma a prioridade dada pelo
governo ao combate ao crack chegou ao conhecimento dos chefes da maior
facção criminosa, que vende a droga nas favelas. Um sinal de que o
governo federal combaterá com firmeza o problema pode estar no envio da
Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) ao Rio, apesar do
desinteresse inicial manifestado pelo governo do estado. No domingo fez
um mês que integrantes da Força Nacional de Segurança (a tropa de elite
subordinada ao Ministério da Justiça) ocuparam a comunidade de Santo
Amaro, que ainda não foi pacificada, na Zona Sul do Rio. Em um mês de
ocupação, a Força Nacional realizou na favela 6.929 abordagens e
apreendeu 650 papelotes de cocaÃna, 1513 pedras de crack, 840 gramas de
maconha. Além disso, foram recolhidas munições, explosivos e armas.
Durante 180 dias, serão realizadas ações
de polÃcia ostensiva, judiciária, bombeiros e perÃcia, em apoio à s
Secretarias de Saúde, Assistência Social e de Segurança do Estado do Rio
de Janeiro, nas áreas onde serão desenvolvidas as ações de implantação
do Programa Crack, é PossÃvel Vencer.
Nas favelas de Manguinhos, traficantes
foram informados que a área poderia ser ocupada pela Força Nacional se o
crack não fosse retirado de lá. Isso pode ter motivado a decisão dos
traficantes. A decisão agradou muitos moradores da favela Mandela. Eles
são testemunhas diárias do estrago causado pelo crack na comunidade. No
Jacarezinho é possÃvel ver usuários de crack na entrada da favela, mesmo
por quem passa no asfalto. As operações policiais têm sido recorrentes,
mas o problema está longe de ser resolvido.
Há três anos fazendo trabalhos sociais
na favela Mandela, o lÃder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, afirma
que tem visto a tragédia causada pelo crack na comunidade. Ele lembra
que já teve que solicitar ajuda da Justiça para levar a um abrigo três
crianças que eram abandonadas pelos pais, usuários de crack.
A ONG Rio
de Paz (que nasceu envolvida cm a redução de homicÃdios) tem um projeto
social, que prevê a construção de uma padaria-escola e o apadrinhamento
de crianças por famÃlias de classe média até a universidade.
Fonte: O Globo
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