quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Batismo de João

A fim de preparar o povo para o Reino Vindouro, João os conclamava ao arrependimento e a que submetessem ao batismo nas águas. O arrependimento (metanoia) é um conceito contido no Antigo Testamento e significado para Deus. Deus conclamou o povo apostáta de Israel: “Convertei – vos, e deixai os vossos ídolos, e desviai o vosso rosto de todas as vossas abominações” (Ez 14:6; 18:30, Is 55: 6,7). A idéia da conversão é expressa pela frase de voltar ou retornar ao Senhor (Is 19:22; 55:7; Ez 33:11; Os 14:1; Jl 2:13). A palavra “conversão” expressa melhor a idéia do que a palavra arrependimento.
A palavra “arrependimento” sugere basicamente tristeza pelo pecado; metanoia sugere uma mudança de pensamento; a concepção hebraica implica em dar uma volta completa em torno de todo seu corpo e voltar – se para Deus.
A literatura apocalíptica deu pouca ênfase a conversão. Israel foi considerado o povo de Deus porque, entre todas as nações, foi o único a receber a lei ( 4Ez [=2 Ed] 7:20,23) e deu – lhe a Lei para permitir que o povo fosse salvo (Apocalipse de Baruque 48:21 – 24). Quando Deus implantar seu Reino, o povo de Israel será congregado para desfrutar a salvação messiânica (Salmos de Salomão 17:50). O problema enforcado pelos escritores apocalíptico era que o povo de Deus fora obediente à Lei, mas ainda sofria de males perversos.
Nos escritos rabínicos, há uma contradição aparente no que tange ao arrependimento. Por um lado, os filhos de Abraão criam que a fidelidade de Abraão proveu um tesouro meritório que estava disponível a todos os judeus. Por outro lado, os rabinos atribuíram grande valor ao arrependimento – tanto que o arrependimento é chamado de a doutrina judaica da salvação. A razão dessa ênfase é que o arrependimento é compreendido à luz dos preceitos da Lei. O ponto de vista prevalecente da tûbah (arrependimento) é legal. A conversão poderia ser repetida quando alguém quebrasse os mandamentos e posteriormente voltasse a obedecer a Lei. A idéia de arrependimento é também enfatizada na literatura de Qumran, na qual os sectários se denominavam “os convertidos de Israel” (CD 6:5; 8:16) e enfatizavam a pureza cerimonial e a conversão interior. “Não seja permitido (aos ímpios) entrar na água para tocar na purificação dos santos, pois o homem não pode ser considerado puro, a menos que esteja convertido de sua malicia, transgride a Sua palavra” (1Qs 5:13,14).
Os sectários praticavam atos de purificação corporal, que eram repetidos diariamente, visando alcançar a pureza cerimonial. Mas essas águas de purificação tinham significado somente quando havia uma retidão moral correspondente (1QS 3:4 – 9). Entretanto, o contexto todo da conversão como interpretada pelos membros da comunidade de Qumram, significava uma separação que o grupo sectário fazia da Lei. Seu ponto de vista foi resumido por uma “compreensão legalista [isto é, numismal] da conversão”, quando o individuo “volta – se do pecado e separa – se radicalmente dos pecadores, para observar a Lei em sua forma mais pura”. O batismo de João rejeitou todas as idéias de uma justiça legalista ou nacionalista e exigiu um retorno moral e religioso a Deus. Ele se recusou a assumir como fato consumado a existência de um povo justo. Somente aqueles que se arrependessem que manifestassem esse arrependimento por meio de uma mudança de conduta, escapariam do julgamento iminente. Seria inútil considerar a descendência de Abraão como um fundamento que pudesse garantir a participação na salvação messiânica. As arvores infrutíferas seriam cortadas e queimadas, muito embora fossem, de acordo com a crença que havia em seus dias, a plantação do Senhor.
A base da salvação messiânica certamente, ético – religiosa e não nacionalista. Utilizando uma linguagem dura, João advertia os lideres religioso de Israel (MT 3:7) para que fugissem da ira rindora como as víboras fogem do fogo. Esta expressão também é um exemplo de linguagem escatológica no Antigo Testamento. O pensamento judaico contemporâneo a João aguardava uma visitação da ira de Deus, mas esta recairia sobre os gentios. João, no entanto, direcionava essa iria aos judeus da que não se arrependessem. Lucas nos fornece algumas ilustrações da mundança que João e3xigia. Aqueles que tivessem abundancia de posses, deveriam ajudar aqueles que estivessem em necessidades. Os coletores de impostos, em lugar de explorar o povo, deveriam coletar simplesmente o que era devido. Essa exigência iria “coloca – los em conflito com as estruturas econômicas e sociais de que faziam parte”. Os soldados foram advertidos a se satisfazerem com seus salários e a não se enganfarem em pilhagem e ações semelhantes.
Uma questão difícil surge quanto a relação precisa entre o batismo de João e o perdão dos pecados. Muitos estudiosos encontram nesse batismo “um significado sacramental de purificação que efetua tanto a remissão de pecados... quanto a conversão” Marcos (1;4) e Luca (3:3) falam de um batismo de arrependimento para (eis) o perdão dos pecados. Lucas 3:3 mostra que o arrependimento para (eis) o perdão dos pecados é uma frase composta e que certamente, devemos entender toda a frase em Lucas 3:3 como uma descrição do batismo, com a preposição (eis) dependente apenas do arrependimento. Não é um ato formal chamado batismo de arrependimento que resulta no perdão dos pecados, mas o batismo de arrependimento que resulta no perdão dos pecados, mas o batismo de João e a expressão do arrependimento que tem como resultado o perdão dos pecados.
Quanto à origem do batismo de João, os estudioso estão em desacordo quanto à origem do batismo de João. Alguns como Robison, Brown, Scobie pensam que João adaptou as purificações dos membros da comunidade de Qumran para seu batismo de arrependimento. Scobie coloca bastante ênfase em um passagem do Manual de Disciplina (1QS 2: 25 – 3:12), em que encontra indícios de uma ablução de iniciação (batismo). Entretanto, não fica totalmente claro que a comunidade de Qumran tivesse um batismo de iniciação diferentes das demais. O contexto dessa passagem sugere as abluções cerimônias diárias realizadas por aqueles que já pertenciam à seita. Permanece ainda a possibilidade de João ter adaptado as abluções diárias dos membros da comunidade de Qumran, transformando – as em um rito de significado escatológico que fosse realizado uma única vez, sim repetições. Há outros que encontram o contexto histórico do batismo de João no batismo judaico dos prosélitos. Quando um gentio abraçava o Judaísmo deveria submeter – se a um banho ritual (batismo), à circuncisão e oferecer sacrifício. O problema é determinar se o batismo de prosélitos já existia naquela época do Novo Testamento. Esta afirmação é algumas vezes negada, mas em outras ocasiões é confirmada por especialista na literatura judaica. Uma vez que a imersão de prosélitos é discutida no Mishnah pelas escolas de Hillel e Shammais verificamos que a pratica já era conhecida em um período bem próximo ao do inicio do Novo Testamento.
Alguns estudiosos argumentam que teria sido algo muito paradoxal se João tratasse os judeus como se fossem pagãos, mas pode ser que a questão do batismo de João resida precisamente nesse ponto. A aproximação do Reino dos Céus significava que os judeus não podiam encontrar segurança no fato de serem descendentes de Abraão, que os judeus, a não ser pelo arrependimento, não poderiam ter mais certeza do que os gentios de que entrariam no Reino Vindouro; deveriam se arrepender e manifestar seu arrependimento pela sujeição ao batismo.
Há alguns pontos de semelhança entre o batismo e João e o de prosélitos. Em ambos os ritos, no batismo de João e no de prosélitos, o candidato era imerso ou imergia – se completamente na água. Os dois batismos envolviam um elemento ético, pelo fato de que a pessoa batizada fazia um rompimento total com sua antiga conduta para dedicar – se a uma nova vida. Em ambos os casos o rito era de iniciação, pois introduzia a pessoa batizada em uma nova comunhão: uma comunhão com o povo judaico e a outra no circulo daqueles que estavam preparados para participar da salvação do Reino messiânico vindouro. Ambos os ritos, em contraste com as purificações judaicas comuns, eram realizados de uma vez por todas.
Entretanto existem vários diferenças entre os dois tipos de batismo. O batismo de João tinha um caráter escatológico, ou seja sua raison d’être foi a de preparar os indivíduos para o Reino vindouro. É esse fato que torna o batismo de João impossível de ser repetido. A diferença mais notável é que, ao passo que o batismo de prosélitos era administrado somente aos gentios, o batismo de João era aplicado aos judeus.
È possível que o contexto histórico que explique a origem do batismo de João não seja nem o batismo da comunidade Qumran, nem o de prosélitos, mas simplesmente as abluções cerimoniais previstas no Antigo Testamento. Os sacerdotes eram obrigados a se lavarem em sua preparação para ministrarem no santuário, assim como exigia – se que o povo participasse de certas purificações em várias ocasiões (Lv 11 – 15; Nm 19). Muitas declarações proféticas, bem moram por meio da purificação que era simbolizada pela água (Is 1:16 e ss; Jr 4:14) , e outras antecipam uma purificação a ser feita por Deus nos últimos dias (Ez 36:25; Zc 13:1) alem do mais, Isaias 44:3 interliga a dádiva do Espírito com a purificação futura. Qualquer que seja o fundamento histórico, João da um novo significado ao rito da imersão ao conclamar o povo ao arrependimento devido à aproximação do Reino dos céus.

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